"Somos todos Josés e Marias". Dedicado ao Matheus que sempre faz o trabalho árduo de corrigir a ortografia de minhas escritas, e a todos os Josés e Marias que escrevem suas vidas com sinceridade e alegria. (Rima inesperada essa) Até a próxima.
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“Se estiveres lendo tais palavras é porque já não me amas mais e eu não mais a você. Mas em respeito ao nosso extinto amor, quero que saiba de algumas coisas!
Nunca lhe disse “te amo” por medo de desgastar, nunca lhe abracei temendo o fim do abraço, nunca lhe beijei esperando o momento ideal. Dei seu nome a uma estrela que espreita a janela do meu quarto, plantei rosas em meu jardim para lhe dar. Nunca comprei rosas por não conterem meus sentimentos, das rosas cuidei e agüei, mas hoje morrem suas pétalas, por não haver ninguém para presentear o inverno se torna devastador.
Os pássaros costumavam cantar enquanto eu passava o café numa manhãzinha fria e chuvosa.
Saiba que essas palavras foram feitas em meio a goles de um café quente. Um café amargo e quente.
No fogão os estalos da madeira queimando são tristes, o leite ferve no caldeirão e forma uma espessa camada de nata, odeio nata.
Já é hora de sair, preciso abrir a venda, pois já se vão às horas.”
O pobre rapaz passa pelas esquinas alienado, os carros e carroças e também as bicicletas, se desviam daquele pobre pecador. Enfim chega-se a venda, graças a Deus, vivo.
É engraçado como a porta range, sabe ela me lembra de você quando vinha comprar pão, logo pela primeira hora da manha.
Mas onde estaria você agora? Aqui a cidade fica cada dia menor sem aquele amor.
Ajeita-se em meio às prateleiras, sujas com farinha de trigo que caía do saco. Minuto a minuto chega os fregueses, que pediam sempre a mesma combinação, uma dose de cachaça e um pedaço gordo de salame, cortado à faca, alguns se arriscavam no copo quente de café com pão e manteiga, ali ficava ate às seis, de conversas, prosas, estórias...
Nnovamente esvazia-se o bar, todos foram para os trabalhos. Passa o pano no chão para amenizar o grosso barro trazido pelos fregueses. Naquele dia chuvoso, desanimado, José ajeita os pães e novamente anseia o fim daquele dia dolorido sem Maria.
Trim! Trim! Tocaram o sino, corre para atender, José, o freguês esta ali!
- Pois não senhora? Pergunta ainda ajoelhado.
- Eu queria saber onde esta o José?
- José sou eu, pois não?
Um longo momento de silencio.
- M... Ma... Maria?
Sim era Maria que voltara para seu grande amor, e dizia sentir saudades, e dizia querer abraços, rosas e beijos. Dizia que amava, e jurava por Deus em todas essas confissões.
- Mas como você sabe Maria?
- José, acho que deixou cair isso.
Lá está o sujo bilhete e ali estava um recomeço, o recomeço de um amor.
Agora José acorda cedo com um bom e gostoso copo de café, dá bom dia à sua amada que agoa as plantas e cuida dos pássaros. José sempre diz ao começo do dia que a ama e nunca deixa de beijá-la e abraçá-la e, em toda noite, antes de dormir, os dois, juntamente com os filhos, contam esta estória olhando para a estrela de Maria no céu do quintal.
Acho que sou como José, talvez ela como Maria, ou melhor, somos todos Josés e Marias. Nem sempre com um final feliz, mas batalhando a cada momento para recomeçar.
Douglas Machado.